A primeira infância foi chegando ao fim e tive que ir para a escola. E isso foi um tranco enorme!

Por algum motivo, ingressei na minha turma da escola depois que ela já estava formada.

Assim, fui apresentado para toda a turma, naquela apavorante sensação de estar sendo olhado por todos ao meu redor e por Frau Mali, se não me falha o nome, minha primeira e bondosa professora no jardim de infância.

A palavra “Frau” é um designativo de “senhora”, em alemão. Meus pais agraciaram os filhos com a formação em uma escola alemã, ainda que minha língua materna fosse o português, com algum pobre conhecimento da língua de meus ancestrais paternos, então.

Assim, após anunciar-me em alemão aos meus novos colegas, Frau Mali perguntou-me, em alemão, se eu falava alemão. Ao que respondi prontamente “não”, também em alemão. Os risos opressores de toda a turma, inclusive da professora, ecoam até hoje na memória.

A escola marcou para mim o início da luta pela sobrevivência: a competição.

O menino precisou lutar. Uma luta para conquistar o reconhecimento das autoridades, professoras e professores. Atender às expectativas dos pais em relação ao filho mais velho. Ainda que essa expectativa não fosse consciente para eles e tampouco para mim, o peso dela recaía em meus ombros.

Lutar para ser reconhecido na nova tribo de colegas.

Não, a luta não era física, apenas ocasionalmente. Afinal, os empurrões sofridos exigiam atitude. 

Porém, o que pesava na competição era ser um garoto de família sem tradição na língua alemã e não ser filho de um alto funcionário de alguma multinacional germânica.

Mas, talvez, a maior dor tenha sido a de ter que aprender a praticar o bullying para poder sobreviver naquele meio: a melhor defesa é o ataque!

O início da escolarização foi marcado por tempos muito difíceis para o menino.

Houve que se defrontar com a “hostilidade” de uma competição de imposição de poder. Uma desesperada luta pela sobrevivência, num ambiente onde eu me sentia um pária.