Eu e minha amiga acreditávamos que o trabalho começava no início da noite.

Houve uma falha da organização ao nos informar que começava no início da tarde. Frustração e raiva, por pegarmos o bonde andando. Como estabilizar-se na meditação com esses demônios tomando o campo mental?

Porém, para minha surpresa, já na manhã seguinte eu estava imerso na jornada daquele programa que, nas suas atividades, impactava os participantes, colocando em xeque conceitos e preconceitos, algo realmente desafiador para as programações da mente do ego, para dizer o mínimo. 

Uma busca às cegas, para olhar o desconhecido. Aprender a confiar para dar o salto no escuro, literalmente.

Na cerimônia de batismo, fui ungido com o novo nome: Dhyan Deepak.

Um nome que significa algo como “a Divina Meditação”, em sânscrito. 

Começa a jornada do Sannyasin, aquele que busca a si mesmo. E, como Sannyasin, eu já não podia mais fingir, nem para o mundo, nem para mim mesmo.

A numerologia do novo nome trazia a energia do quatro para minha constelação numérica. O número de Gaia, da Mãe Terra. Um número ligado à completude e ao trabalho laborioso. Como se eu houvesse sido solicitado a me trabalhar, para poder desenvolver o que vim fazer nesta vida.

O mundo, então, dividiu-se em dois ao meu redor. De um lado, o Sannyasin, e do outro o agrônomo e pai de família, em um universo que ainda não estava pronto para aceitar o “louco” em que eu vinha me transformando.

Curiosamente, eu aprendi a transitar e viver na prática entre dois mundos já no período escolar, quando convivia com a permanente sensação de ser um “estranho no ninho”, o “pé rapado” em meio à elite. 

Contudo, a coexistência em dois mundos, na fase adulta da minha vida, passou longe de ser mais fácil do que na infância.

Foram anos e anos para esses dois mundos convergirem para uma única realidade — ouso dizer, se é que convergiram plenamente. Uma caminhada turbulenta em muitos momentos, com o receio de chocar e ser rejeitado.

A rejeição, de fato, era minha ao refutar o que vim fazer nesta vida. De assumir quem eu sou. Um processo de permanente desdobramento. 

Houve que dar o tempo necessário para ocorrer a integração dos dois universos.

Transitar entre esses dois mundos foi — e tem sido —, de fato, um instrumento precioso para a construção d’Os Corpos da Alma.