Por que tentar mudar o outro? Qual é o objetivo de tentarmos mudar o outro?

Uma pessoa tem um comportamento que não me agrada. Ela vive enfiando o dedo no nariz e fazendo aquela bolinha com resíduo do nariz e ainda tem o hábito de comer a bolinha (um colega de escola fazia isso). É nojento, é inaceitável alguém na minha frente fazer isso, mas e aí, que direito eu tenho de mudar essa pessoa? Até que ponto é razoável eu querer influenciar essa pessoa para ela mudar de hábitos?

Entenda: quando eu quero mudar o outro, no fundo, no limite, lá no fundo, bem no fundo – que eu não vou confessar para mim mesmo -, eu quero mudar o outro para que ele me sirva, para que ele esteja perto de mim e eu me sinta seguro.

Você não vai no zoológico ver os animais tendo comportamentos lamentáveis do ponto de vista de comer fezes de outros e você não vai ficar lá querendo mudar o comportamento dos animais, ainda que você seja o tratador dos animais do zoológico, ainda que esse seja o seu pet. Bom o pet você vai querer mudar, você vai querer educá-lo, você vai querer treiná-lo e você treina seu animal de estimação para ele se comportar do jeito que você quer e você sustenta ele, mantém ele, alimenta ele.

Eu quero mudar o outro. Você vai sustentar ele? Cuidar dele? Vai manter ele ou você vai se relacionar com o outro? Temos regras sociais de comportamento e todas elas são válidas e importantes. Eu te trago um exemplo bastante desconfortável aqui exatamente para estimular, olhar para isso, estimular olhar para aquilo que acontece.

A pessoa tem um comportamento que me desagrada e eu quero mudar ela. Talvez você possa mudar a forma de você se comportar em relação ao outro, se abrir para tentar entender o outro, o porquê de ele fazer isso. Qual é o comportamento que leva ele a ter alguma questão, uma atitude que te incomoda? O que te incomoda?

Talvez você possa querer mudar você, talvez você possa querer mudar a sua percepção do outro, o seu jeito de olhar para o outro, entender o outro. E se aquela atitude não é agressiva para você, se aquela atitude não é impactante em você, talvez você pare com a vontade de querer mudar o outro.

Se ela é agressiva, talvez você deva mudar e se afastar de pessoas agressivas. Se ela é agressiva visualmente, talvez você não precise ficar olhando para isso o tempo todo e você pode mudar também. O ponto de mudança está em você. Mudar o outro é meramente querer que o outro me sirva, que o outro se adeque aquilo que eu sou, à minha necessidade.

Veja o outro, entenda o outro. Veja a limitação, a dificuldade do outro que levou ele a ter uma atitude, um comportamento compulsivo obsessivo. Observe o outro e entenda como você funciona. Mude você. Não é para aceitar tudo que está aí. Você não precisa se alinhar a tudo que está aí. Você precisa se alinhar e respirar.

É claro que, se alguém está sendo agredido na sua frente, você está sendo agredido diretamente, talvez, você tenha que tomar uma atitude, mas querer mudar o outro em muitos momentos passa a soar como uma arrogância.

Eu querer mudar o outro, pode ser uma atitude arrogante da minha parte. Eu não estou aqui para mudar ninguém. Você faz o exercício que é recomendado pelo terapeuta. O que você escolhe fazer? Mudar o outro? Falar que o outro tem que fazer ou ser? Talvez seja arrogância.

Conheça mais a você mesmo, conheça mais o outro. Entenda como o outro funciona e você começa a entrar no estado de aceitação. Aceitar você assim como você é.

Que assim seja.

 

Dhyan Deepak

Terapeuta e Coordenador de Os Corpos da Alma